sábado, 23 de março de 2013



 A MATEMÁTICA DE UMA TRAGÉDIA 
Depois de voltar ao local da maior tragédia do Rio Grande do Sul, fiquei ali por alguns minutos refletindo diante daquele tapume na boate Kiss coberto por fotos, faixas e cartazes.
O lugar continua desolador, visitado como se fosse um altar, onde até hoje flores são depositadas e regadas quase que diariamente por familiares inconformados.
Impossível não sentir ali uma tristeza, o pesar, o vazio e a revolta contida naquelas mensagens...
Qualquer problema ou estresse que porventura algum de nós tenhamos, se torna ínfimo, insignificante diante daquilo tudo.  
Sem dúvida um silêncio perturbador, ensurdecedor como já ouvi dizerem durante aquela semana fatídica em que lá estive pela primeira vez.
O que mudou agora? Foram os NÚMEROS.

Nos dias que antecederam a conclusão do inquérito policial a atenção de todos estava voltada para isso. Quantificar em números os indiciados, as responsabilizações, o somatório de erros, de negligências, de elementos que contribuíram para mais de 240 mortes.
Em meio a toda aquela expectativa eis que surge um calhamaço de 13 mil páginas com uma enxurrada de números: 35, 28, 16, 241, 623...E  por aí afora.
Foram tantos que nós jornalistas, ávidos por informação, perdemos as contas...
As conclusões da investigação e as comprovações das perícias estavam todas naquele extenso documento representadas por essas dezenas, centenas ou milhares...

A perda para cada uma daquelas famílias jamais será mensurada em números.
O que todos esperam é que, ao menos a divulgação desse levantamento da polícia sirva de base para que se faça justiça. Essa é a única forma de converter sequências numéricas em uma certeza: a de que os filhos de Santa Maria não partiram em vão.